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Olha, fora a idéia original tem umas passagens boas, mas não posso dizer que é um livro extraordinário; tá me fazendo pensar, sim, e até ter medo de as pessoas, num futuro próximo (em que eu esteja viva, naturalmente) desprezarem tanto os livros até eles acabarem, mas não me fará ter vontade de relê-lo e relê-lo inúmeras vezes (será que eu vou logo esperando uma obra-prima e então perco o interesse?)
A escolaridade se reduz, a disciplina é deixada de lado, as filosofias, a história e as línguas são abandonadas, aos poucos se deixa de cuidar da gramática e da sintaxe, que acabam quase inteiramente esquecidas. A vida é corrida, o que conta é o emprego, o prazer está em toda parte depois do trabalho. Para que aprender alguma coisa a não ser apertar botões, mexer em alavancas, ajustar parafusos e porcas?(...)
As pessoas de cor não gostam de "O garotinho preto". Então, é melhor queimá-lo. Os brancos não se sentem à vontade com "A cabana do pai Tomás". Queime-o. Alguém escreveu um livro sobre a relação entre o fumo e o câncer de pulmão? Os fabricantes de cigarros estão aborrecidos? Queime o livro.(...)
Se você não quer que uma casa seja construída, esconda os pregos e as tábuas. Se não quer que uma pessoa seja politicamente infeliz, não lhe dê os dois lados de uma questão para se preocupar. Dê-lhe um só. Melhor ainda, não lhe dê nenhum. Será melhor ela esquecer que existe uma coisa como a guerra. Se o governo for ineficiente, autoritário e perdulário, é melhor ser tudo isso sem que as pessoas se preocupem com essas coisas. Paz, Montag. Dê às pessoas concursos que elas ganham lembrando-se das letras de canções mais populares, dos nomes de capitais ou de qual estado produz mais petróleo. É melhor entulhá-las de dados não combustíveis, entupi-las com tantas "informações" que elas se sintam enfastiadas, mas muitíssimo "brilhantes". Aí elas acham que estão pensando, ficam com uma impressão de estar em movimento sem se mexer. E ficarão felizes porque os fatos dessa espécie não se modificam. Não lhes dê coisas escorregadias como filosofia ou sociologia para embrulhar as coisa. Esse é o caminho da melancolia.
Karla
às 20:19 ::
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