sábado, julho 13, 2002


Never fall in love again

O amor é egoísta. Te faz esquecer da política, da miséria e da fome. Te faz esquecer do mundo. Te faz esquecer a palestra dum escritor do Timbuktu que nunca mais vai voltar porque ficou espremendo cravos das costas dele. Te faz esquecer do horário no dentista, de trocar o óleo do carro, de comprar uma lâmpada pra sala e de pagar a conta do telefone. É egoísta porque te faz pensar só e somente só nele, escrever só e somente só sobre ele, pensar nele de 100 maneiras, 48 horas por dia. Te faz esquecer de ti mesmo, da samambaia, de molhar o cactus e de botar a manteiga na geladeira. Enquanto dura, é mais importante que o seu emprego, as eleições, o Timor e a sua mãe. Mais importante que tudo, já que a única coisa que se pensa é dormir abraçadinho, acordar com mordidas nas costas, olhar nos olhos, ouvir jazz e beber vinho. Tomar juntos banhos intermináveis em banheiras cheias de sais, ver ele sorrindo e beijá-lo. Beijos. Mas não é qualquer beijo. É o beijo dele.

Só o amor te faz viajar 18 horas em um ônibus fétido, com bônus do tipo uma mãe gritando com o filho que não pára, um velho roncando e um alemão polenteiro babando, pra ter o amado do teu lado por algumas horas, sentir as mãos dele, a pele dele, o gosto dele, ele todo. Só o amor, esse inconveniente, te faz escrever com uma bic estourada num caderno de capa mole em um ônibus balançando, desidratada. Eu já devia ter aprendido, mas eu e o jazzista branco e magro temos isso em comum: we fall in love too easily, too fast, too terribly hard. Quando acaba, dói, e eu choro, e canto, e digo que o amor é egoísta e que nunca mais vai acontecer. Só então olho em volta e me dou conta do resto do mundo, escrevo sobre o resto do mundo, leio, toco, falo e tento esquecer que o meu amor se derreteu feito um picolé no sol.

Não me deixe nervosa, não me mate de raiva, nem me peça perdão. Não me deixe. Não me largue no deserto, não diga que sente muito. Não duvide do meu amor. No fim, não olhamos a lua, nem sumimos do mundo, nem fugimos. Nem fizemos amor. É piegas, é brega, mas eu nunca fiz amor. Nunca tinha amado. Sexo? Milhares de vezes, com milhares de ninguéns. Amor seria só contigo, luv. Mas agora é tarde. Agora a vida já te transformou em rima.

(Muito bom, como tudo da Clarah)

Karla às 20:25 ::



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