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"A lavagem estomacal me fez recuperar os sentidos. Um tubo comprido foi enfiado no meu nariz, até o fundo da minha garganta. Parecia que queriam me sufocar. Depois, começaram a bombear. Era como tirar sangue em grande quantidade - a sucção, a sensação de tecidos que ruíam e se tocavam de um jeitto diferente do normal, a náusea de sentir que arrancavam tudo o que havia lá dentro. Foi um ótimo desestímulo. Decidi que da próxima vez, com certeza, eu não ia tomar aspirina.
No entanto, quando terminaram, perguntei-me se haveria uma próxima vez. Eu me sentia bem. Não estava morta, mas alguma coisa havia morrido. Talvez eu tivesse alcançado o meu estranho objetivo de suicídio parcial. Senti uma leveza, uma animação que havia anos não sentia.
Essa despreocupação durou meses. (...)
A única coisa esquisita foi que de repente me tornei vegetariana.
Desvio ao meu desmaio em cima do balcão do açougue, passei a associar carne com suicídio. Mas sabia que havia mais coisas por trás disso.
A carne estava machucada, sangrando, espremida numa embalagem apertada. E, por mais que tivesse passado seis meses livres desse pensamento, eu também."
(Susanna Kaysen: Moça, interrompida)
Karla
às 00:28 ::
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