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Amanhã será o primeiro dia de aula, depois de muitos anos, da senhora que trabalha aqui na minha casa, e que considero a minha segunda mãe. Mês que vem fará vinte e dois anos da chegada dela aqui, e nesse tempo todo o que mais me incomodava era a frustração por não poder ajudá-la a aprender a ler. Ano passado fiz uma tentativa: comprei um caderno de caligrafia e escrevi seu nome e as letras do alfabeto para que ela tentar imitá-los; ajudou um pouquinho ao fazê-la perder o medo de assinar na frente de outras pessoas, mas não era o bastante. Foi então que, quarta-feira passada, aproveitando a dica de uma colega de trabalho, levei-a ao colégio estadual pertinho de casa, para tentar matriculá-la. Ainda tive que persuadi-la a ir, já que ela morre de vergonha por dizer que não sabe ler, sendo já adulta, mas como a vontade de aprender foi maior, fomos. Primeira decepção: esperamos uma hora e meia pela funcionária responsável e nada (já faltou na primeira semana de aula!). Fingi possuir a maior paciência do mundo (se ela desconfiasse de que estaria me incomodando de alguma maneira, não iria mais), faltei aula (geometria analítica, sem remorso algum) e fomos lá no outro dia. E, graças a Deus, ela pôde se matricular. Compramos o material escolar e eu não vou esquecer nunca a sensação de gratificação que tive naquele dia (e que dura até hoje); cheguei a pensar que é essa a razão pela qual alguém deseja ser professor, essa tão maltratada profissão. Acho que preciso praticar um pouco mais dessas "boas ações": no final, creio que a maior beneficiada será sempre eu mesma...
Karla
às 14:20 ::
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