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Dentre muitas que me emocionaram, esta:
"A idéia de que em vez de me aproximar da costa estava me internando no mar durante sete dias me tirou o ânimo para continuar lutando. Mas quando a gente se sente à beira da morte, o instinto de conservação se aguça. Por várias razões aquele dia - o sétimo - era muito diferente dos anteriores: o mar estava parado e escuro; o sol me queimava a pele, morno, calmante, e uma brisa tênue empurrava a balsa com suavidade e me aliviava um pouco das queimaduras.
Os peixes também eram diferentes. Desde muito cedo escoltavam a balsa. Nadavam na superfície. Via-os com nitidez: peixes azuis, pardos e vermelhos. Navegando junto a eles, a balsa parecia deslizar sobre um aquário.
Não sei se depois de sete dias sem comer, à deriva no mar, a gente chega a se acostumar a essa vida. Talvez sim. O desespero do dia anterior foi substituído por uma resignação molenga e sem sentido. Estava certo de que tudo era diferente, de que o mar e o céu tinham deixado de ser hostis, e que os peixes que me acompanhavaam na viagem eram amigos. Meus velhos conhecidos de sete dias."
(Gabriel García Márquez, Relato de um náufrago, Ed. Record, pp. 75-76)
Karla
às 19:25 ::
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